Voici une interview du brésilien Flavio Carneiro, un des auteurs de l’équipe de Le football au Brésil, paru en juillet sur le site SoFoot.com. En voici quelques extraits :
(…)
Qu’est-ce que le football vous a appris sur la vie ?
Déjà, le sens des mots solidarité et camaraderie. Tu joues avec un mec que tu ne connais pas et, tout de suite, il devient un pote, quelqu’un que tu as l’impression d’avoir connu toute ta vie. Surtout, le football m’a appris que je ne suis pas infaillible. La veille d’un match, je rêve toujours de ce que je vais faire sur le terrain, du but que je vais marquer. Casagrande ou Ronaldo Fenomeno parlent très bien de ça. Sauf qu’on ne peut pas tout contrôler. Par exemple, tu peux t’entraîner tous les jours à tirer des penaltys pendant des heures, et puis le louper le jour du match.
Le monde ne peut pas être planifié et le foot aide à accepter l’incertitude et l’imprévu.
Existe-t-il un parallèle possible entre le joueur de foot et l’écrivain que vous êtes ?
Je n’ai jamais pensé à ça, mais je crois avoir hérité de quelques trucs de ma période de joueur. Le meneur de jeu ressemble sans doute au poète. Moi, j’étais attaquant, comme l’écrivain de prose, qui poursuit un objectif, un but. Je pense aussi qu’il faut s’entraîner, se préparer pour être prêt à saisir l’opportunité quand le moment d’inspiration arrive. C’est une question de secondes, un truc très rapide. Prends par exemple le but de Messi contre l’Iran. Il ne voit même pas le but. Il dribble et puis il la met dans le petit filet, sans jamais avoir regardé où se trouvait le gardien ou le poteau. C’est la même chose pour un écrivain. Tu te mets à écrire, et à un moment l’intuition ou l’inspiration arrivent. Un autre point en commun entre la littérature et le foot, c’est la lecture. Dans le football, tout n’est que lecture. Sur un terrain, tu dois en permanence lire les comportements de tes adversaires, de tes coéquipiers et de toi-même. Et je ne crois pas qu’il existe un écrivain qui ne soit pas, déjà, un lecteur.
Comme écrivain et critique, vous dites détester les romans qui veulent faire passer un « message ». Ne trouvez-vous pas qu’il y a trop de morale dans le football ?
Le foot a toujours été utilisé pour transmettre un message, qu’il soit politique, moral ou idéologique. La dernière dictature brésilienne a tiré profit du succès du Brésil en 1970, au pire moment de la répression politique dans notre pays. Le football est également instrumentalisé pour faire passer des messages sur le dépassement de soi, la fraternité et la solidarité entre coéquipiers. De la même manière, la FIFA a entrepris une pasteurisation du football. Regardez la présentation des formations à la télé, tous les joueurs font la même chose. Ils croisent les bras, regardent à droite, regardent la caméra. Les bus des sélections sont tous les mêmes. La FIFA veut des stades très propres, tout doit être parfait, tout doit être sous contrôle. Sauf que le football continue à nous désorienter, à surprendre. Il échappe au système. Il y aura toujours un Luis Suárez pour mordre un joueur, un Costa Rica qui sort l’Italie et l’Angleterre. L’imprévu, c’est ce qui fait la beauté du football et d’un bon polar. Le reste, c’est de la mauvaise littérature.
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sur Football et littérature : Je suis auteur de la oeuvre Lima Barreto versus Coelho Neto: um fla-flu literário (editora Difel, RJ, 2010), que je ne sais pas se vous le connais -- alors, je vous envoyerai. aussi je écrit articles sur football et littérature, comme ici un exemple :
Em campo, com gols e ‘golaços’, o escritor e a literatura brasileira
O cenário era o Maracanã (o ‘velho’ : inesquecível...), eu e um escritor amigo a postos para o jogo que antepunha nossos times de paixão pelo campeonato brasileiro: conversávamos, e ele,escritor de primeira,apaixonado por futebol, como eu,ambos também apaixonados pela literatura, contava-me nunca conseguir expor,expressar e transpor pelas letras, afinal seu ofício, a emoção,no caso de vitórias, ou a decepção, quando das derrotas, de seu time quaisquer que fossem os torneios, as competições, as circunstâncias...
Para ele, isso, e todas as sensações, era bastante emblemático -- aliás, também acho, mas por vieses diferentes. Dizia: “-isso prova que o futebol, por constituído de características próprias que o tornam ‘diferenciado’, ‘auto-expressivo’, ‘uma expressão em si mesma’, dispensa e dilui outras formas de representação, apropriação, reinvenção e interpretação; difícil pois de ser retratado convenientemente pela literatura...”
Assim, era levado a endossar – com minha severa contestação -- uma corrente de opinião que, justamente por esse tipo de ‘obstacularização’ experimentada por ele, argumenta a incapacidade de a literatura brasileira, à exceção da crônica, ressalvam essas vozes,captar,retratar,registrar,expressar e formalizar adequadamente o futebol – afinal, ‘paixão nacional’, ‘entranhado na alma e no imaginário do brasileiro’, etc etc...
Meu amigo, não bastasse o ‘sofrimento’ em si com o fracasso de seu time, refletia, e me induziu a reiterar minha convicta reflexão, sobre uma questão que o ‘incomodava’,intelectualmente, e que de resto ‘incomoda’ a muitos dos que se debruçam sobre o tema..
A mim, não restam dúvidas: ainda que “expressão em si mesma”, o futebol tem recebido e recebe – assevero – tratamento literário, é muitíssimo bem contemplado quantitativa e qualitativamente,quer pela ficção quer pela não-ficção brasileira.
E não é de hoje – claro que sob outras escalas e circunstâncias temporais.
Um recorte, ou um giro, pela história aponta e comprova: literatos sempre se envolveram, debruçaram-se, dedicaram escritos e comentários ao futebol, em maior ou menor grau,em ciclos cronológicos distintos,levados e induzidos por motivos e vetores diversos. O primeiro ‘match’, o ‘kick-off’ deu-se logo que o futebol, ainda anglo-saxônico e aristocrático, entrou em campo no início do século XX, o Rio de Janeiro como ’habitat’ da célebre polêmica entre Coelho Neto e Lima Barreto, aquele ardoroso entusiasta --inclusive autor da primeira obra literária a citar e incorporar o futebol ficcionalmente, o romance Esfinge publicado em 1908 --este vigoroso e irreverente crítico --primeiramente por tratar-se de um ‘estrangeirismo’, ser elitista e sectário, depois, o futebol já crescentemente popularizado,pela violência imperante dentro e fora dos campos (qualquer semelhança com o presente não é mera coincidência...), por fim pela exclusão social e racial ,definitivamente não ‘perdoada’ por Lima.
A verdade é que, ainda na década de 1910, impressionados com a avassaladora popularidade do futebol, seduzidos pelas próprias características do jogo, os intelectuais, e notadamente os escritores, além de jornalistas, sucumbiram à admiração pelos aspectos lúdicos e até mesmo à tentação e ao desafio de interpretá-lo -- como João do Rio, Luis Edmundo, Afrânio Peixoto (médico que também era, foi o primeiro a legitimar, sob argumentação científica,o futebol como atividade ‘respeitável’, ligando-o ao intelecto e à educação). Logo, escritores como Coelho Neto e Olavo Bilac, por exemplo — até mesmo por sua ‘índole estilística’ — não hesitaram em ‘literatizar’ o esporte, pincelando-o com tons e matizes helênicos mitológicos, ao mesmo tempo apregoando as vantagens ‘filosóficas’ de sua prática e disseminação..
Tinham todos, como esperado, a vigorosa oposição de Lima Barreto, que não os poupou de acirradas críticas em crônicas, artigos, até em contos; a ele unidos nessa ‘cruzada’ Carlos Sussekind (autor de obra hoje esgotadíssima, O sport está deseducando a mocidade brasileira), Antonio Noronha Santos, Coelho Cavalcanti (com Lima, criou em março de 1919, uma “Liga Contra o Futebol”); e a ilustre ‘companhia’ de Graciliano Ramos,que lá de Alagoas em 1916 alardeou "(...)futebol não pega, tenham certeza...Estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho...A rasteira,,sim,é o esporte nacional por excelência !(...)”[“Linhas tortas”]. Mas, já que mencionado o nordeste, a contrapor Graciliano, o paraibano José Lins do Rego a partir da década de 1940, estabelecido no Rio, entregou-se de corpo, alma e escrita literária a inflamada paixão pelo futebol, em crônicas e no romance Água-mãe..
Em São Paulo, o futebol em 1905 já atraía grande interesse popular – a começar por Monteiro Lobato, que expunha inusitado entusiasmo em cartas a Godofredo Rangel e num inflamado discurso acerca de um jogo entre paulistanos e ingleses: "(...) O goal do Paulistano provocou a maior tempestade de aplausos jamais conhecida em São Paulo...) É desta espécie de homens que precisamos. Menos doutores, menos parasitas, menos bajuladores, e mais struggle-for-life.(...)".
Gradativamente, mesmo sem suscitar grandes paixões que extrapolassem o âmbito esportivo – como no Rio de Janeiro – intensificou-se entre intelectuais e escritores paulistas e paulistanos a atenção ao futebol, sobretudo a admiração e exaltação à plasticidade do jogo, a elasticidade das jogadas, a empolgação dos que praticam e assistem as partidas – assim foi com Amadeu Amaral, Sylvio Floreal, Hilário Tácito; com Menotti Del Picchia (registrando-o em poemas, e inclusive nos roteiros dos dois primeiros filmes do cinema brasileiro sobre futebol, “Alvorada de glória” e “Campeão de futebol”, 1931), Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Alcântara Machado – modernistas que logo se renderam ao novo esporte. Ao contrário de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, ambos de imediato dedicando ao futebol crítica e repúdio, ou (em Oswald) ironia ferina, depois amenizados ao longo do tempo, mas apenas admitindo seu ‘caráter antropofágico’, com afirmação da capacidade brasileira de assimilação das influências estrangeiras e sua transformação em expressões genuinamente nacionais.( merece reflexões -- que, aliás, desenvolvi em artigo – o porquê não se engajaram efetivamente em sua aceitação, como elemento inerente em essência a seus ideais de nacionalidade, ou pelo menos não o encararam devidamente como um instrumento para chegar às suas concepções sobre a brasilidade, a exemplo do que tinham feito ao acolher, por exemplo, o folclore e a música popular ?
Para os que ainda cultivam dúvidas e senões, o futebol encontra expressiva acolhida em todas as searas da literatura brasileira. Se não,constate-se por exemplo o quanto a não-ficção o registra,enfoca e reflete como fenômeno multidisciplinar, estudado e dissecado pela antropologia social, pela sociologia, pela psicologia.: em escritos de Sergio Milliet, de Sergio Buarque de Holanda, Paulo Emilio Salles Gomes, Gilberto Freyre,em Anatol Rosenfeld (no texto “O futebol no Brasil”, comenta e analisa os elementos sócio-econômicos do futebol, da ascensão das massas aos componentes típicos dos jogos de bola,o torcedor, o ídolo, o clube), Vilém Flusser ( refutando o aspecto de ‘alienação’ apregoado ao futebol,enfatiza nele os vetores de engajamento, e chega a formular o conceito de “um novo homem brasileiro, um homo ludens”).
A eles se incorporam, com ensaios, artigos, teses e obras, Décio de Almeida Prado, Nicolau Sevcenko, Waldencir Caldas, José Sérgio Leite Lopes, Francisco Costa, Luiz Henrique de Toledo, Fátima Ferreira Antunes, dispostos a buscar uma compreensão do futebol e uma percepção do esporte como uma ágil e poderosa forma de expressão do caráter nacional; uma codificação positivista da estrutura social brasileira..
E o que dizer da ficção brasileira, onde atua um senhor ‘time’ de escritores, numeroso e de alta qualidade: contos de João Antonio, de Ignácio de Loyolla Brandão, Luís Fernando Veríssimo, Flávio Carneiro, Glauco Mattoso, Cristóvão Tezza, Sérgio Sant’Anna, Marcelino Freire, Clarice Lispector, Paulo Perdigão, Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca,Fernando Sabino,Plínio Marcos, João Ubaldo Ribeiro, Rachel de Queiroz, Flavio Moreira da Costa, Marcor Rey, Edilberto Coutinho,Edla van Steen, Luiz Vilela, Duílio Gomes, Hilda Hilst, Ana Maria Machado, Orígenes Lessa, Ricardo Ramos, Carlos Eduardo Novaes; poemas de Ferreira Gullar, Glauco Mattoso, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto,.Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes.E para não dizer que tudo se concentra no chamado eixo Rio-SP, vale saber de Humberto Werneck(de Minas), Domingos Pellegrini (do Paraná), Sergio Faraco, Moacyr Scliar, Aldyr Garcia Schlee (um trio gaúcho), Flavio José Cardozo (catarinense).
Sem esquecer de Mario Filho, Nelson Rodrigues, Armando Nogueira que, como cronistas futebolísticos, fizeram (Alta, quase sempre) literatura.
Então, como apregoar ‘distanciamento’ da literatura brasileira com relação ao futebol, este não tratado como deveria por aquela ?
Alguns chegam a almejar por uma ‘GRANDE OBRA’ sobre o futebol: convêm tirar a equipe de campo, pois tal não existe em nenhuma literatura do mundo qualquer que seja o assunto ,área ou seara...
A literatura brasileira, isso sim, é pródiga em notável ,magnífica profusão de coletâneas, seletas,escritos, manifestações e expressões de diversos matizes a provar e comprovar consistente e definitivamente que ao contrário do que se pensa,interpreta e apregoa não há o tal 'divórcio' , o diálogo é vivo,vívido, autêntico.
E cá entre nós: os da música popular também reclamam de o samba e o carnaval, do mesmo modo ‘entranhados’ no brasileiro, não serem devidamente, suficientemente contemplados. Pobre literatura ! tem de contentar igualitária,soberana e olimpicamente a todos ! (digo e reitero: a literatura brasileira, ficcional e não ficcional, por sua própria conceituação e essência, tem muitos temas, assuntos, searas e áreas a cobrir e tratar.. .e o faz muito bem...).
A realidade incontestável é que, desde seus primeiros tempos no Brasil e as querelas dos pioneiros literatos como Coelho Neto e Lima Barreto, a alimentarem um processo que o constituiria verdadeira instituição nacional, o futebol continuou – e continua -- ao longo do tempo, sua meteórica ascensão e disseminação entre todas as camadas e estratos, como ‘força esportiva’, ‘força social’, ‘força cultural’. Seguiu sua trajetória eletrizando todas as camadas sociais e sensibilizando escritores, artistas e intelectuais.
O escritor, ficcional e não-ficcional, e a literatura brasileiras há muito entraram em campo, trocam belos ‘passes de letra’ e sedutoras tabelinhas , fazem gols e golaços e conquistam expressivas vitórias – contra os céticos, os equivocados de julgamento, contra os – parodiando Nelson Rodrigues -- ‘arautos do apocalipse”...
M.R.